O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki | Assista nos Cinemas
Tendo neste longa a sua autointitulada última obra, Hayao Miyazaki mergulha mais uma vez em um mundo de sonhos que deixaria Sandman de queixo caído. Ambientado durante a Segunda Guerra Mundial — uma época tão presente no imaginário japonês quanto no norte-americano — o filme toma como protagonista o menino Mahito, de 11 anos, que acaba de perder a sua mãe em um incêndio e pouco tempo depois muda-se para o interior, onde ele e seu pai são abrigados na casa da família da falecida, onde também mora Natsuko, tia do garoto e agora nova esposa de seu pai.
Apesar de focar no processo de luto, perda e crescimento de seu protagonista, o filme não deixa de tecer comentários rápidos sobre o contexto geopolítico do Japão, principalmente acerca do papel das fábricas durante uma guerra. O realismo fantástico, já tão conhecido dos apreciadores do Estúdio Ghibli, começa quando Mahito nota a existência de uma torre interditada no terreno de sua família e uma Garça Real começa a persegui-lo por toda a extensão da propriedade.
Créditos: Studio Ghibli / Toho Company / Sato Company
Seguindo essa Garça, que ora é aliada, ora é inimiga, Mahito consegue acessar o interior da torre, que dá acesso a um mundo onde ele irá encarar seu legado, na forma de seus antepassados e de seu futuro. Claro que tudo é muito metafórico e a jornada real reside atrás de periquitos gigantes comedores de humanos e espíritos que voam rumo à reencarnação. O grotesco sempre tem lugar no cinema de Miyazaki e o design dos personagens é um espetáculo à parte. Enquanto as paisagens são encantadoras, as criaturas assumem a face do bizarro e da caricatura. Mas ambos são resultado de uma técnica de animação para ninguém botar defeito
Infelizmente, embora o visual do filme seja de encher os olhos, a trama deixa a desejar. Parece que o diretor está mais interessado em desenvolver o maior número possível de cenários e entes do que em aprofundar-se no significado de tudo o que apresenta. Não que cada elemento tenha que ser explicado — longe disso. Mas enquanto alguns são bem desenvolvidos ou deixam rastros de sua importância e conexão com o cerne da trama, há outros que parecem jogados, perdidos e sem propósito. O lado bom disso é que o mundo da torre criado pelo diretor e roteirista de fato parece vivo, denso, cheio… e não apenas um pano de fundo onde a história se dá. Pelo lado ruim, entretanto, esse caos de peças sobressalentes pode deixar o espectador confuso, mistificado ou pior, distraído. Para o espectador brasileiro médio — sem grandes conhecimentos da cultura japonesa — é ainda mais difícil. Pois não sabemos sequer distinguir quais simbologias fazem parte do folclore local e quais são criações do diretor.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e ano: 2023.Direção e Roteiro: Hayao Miyazaki. Elenco de vozes originais: Soma Santoki, Masaki Suda, Ko Shibasaki, Aimyon, Yoshino Kimura, Takuya Kimura, Kaoru Kobayashi e Shinobu Otake. Gênero: Fantasia, animação. Nacionalidade: Japão. Trilha Sonora Original: Joe Hisaishi: . Direção de Fotografia: Atsushi Okui. Montagem: Takeshi Seyama. Produção: Toshio Suzuki. Distribuição: Sato Company. Duração: 124 min.
HOJE NOS CINEMAS
por Luana Rosa
